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ADL Global 100 Index: Mais de um quarto da população mundial possui crenças antissemitas

A Liga Antidifamação (ADL) divulgou, no dia 13 de maio, os resultados de uma pesquisa mundial sobre crenças antissemitas. O ADL Global 100 apresenta uma pesquisa em que 53.100 adultos em 102 países foram questionados sobre 11 esteriótipos antissemitas, no esforço de estabelecer pela primeira vez uma ampla pesquisa baseada em dados do nível e intensidade do sentimento anti-judaico em todo o mundo.

Abraham H. Foxman, diretor nacional da ADL, considera que a pesquisa expressa, pela primeira vez, uma noção real de como o antissemitismo generalizado e persistente está presente no mundo. Ainda segundo Abraham H. Foxman, “os dados nos permitem olhar além de incidentes e retóricas antissemitas e quantificar a prevalência de atitudes antissemitas em todo o mundo. Podemos agora identificar os focos, bem como os países e regiões do mundo onde o ódio aos judeus é essencialmente inexistente.”

A ADL contratou as empresas de pesquisa First International Resources e Anzalone Liszt Grove Research para realizar a pesquisa de atitudes em relação aos judeus. Os dados foram recolhidos a partir de entrevistas realizadas entre julho de 2013 e fevereiro 2014, em 96 idiomas e dialetos por meio de questionários feitos por telefones fixos, celulares e pessoalmente.  A margem de erro para a maioria dos países, onde foram selecionados 500 entrevistados, é de +/- 4,4 por cento. Em vários países maiores, onde foram realizadas 1.000 entrevistas, a margem de erro é de +/- 3,2 por cento.

Para cálculo do índice de anti-semitismo, foi considerado o número de pessoas, em porcentagem, que responderam como “verdadeiro” a 6 ou mais questões entre 11 questões caracterizadas por esteriótipos negativos sobre judeus. O índice representa o número de pessoas com crenças antissemitas. Abaixo, listadas as 11 questões:

  • Judeus são mais leais a Israel do que ao país onde vivem?
  • Judeus possuem muito poder no mundo dos negócios?
  • Judeus possuem muito poder no mercado financeiro internacional?
  • Judeus falam demasiadamente sobre o que aconteceu com eles no Holocausto?
  • Judeus não se importam com o que acontece com qualquer pessoa, exceto com os seu próprio povo?
  • Judeus possuem muito controle sobre assuntos internacionais?
  • Judeus possuem muito controle sobre o governo norte-americano?
  • Judeus pensam que são melhores do que as outras pessoas?
  • Judeus possuem muito controle sobre a mídia internacional?
  • Judeus são os responsáveis pela maior parte das guerras pelo mundo?
  • Pessoas odeiam os judeus por causa da maneira como os judeus se comportam?

O índice classifica os países e territórios do menos antissemita (Laos, em 0,2 por cento) ao mais antissemita (Cisjordânia e Faixa de Gaza, em 93 por cento), vale ressaltar que a pesquisa do índice não entra no mérito, de forma direta, sobre questões em relação ao sionismo e ao Estado de Israel.

A pesquisa constatou que as crenças antissemitas estão presentes no mundo. Mais de um em cada quatro adultos, 26 por cento dos entrevistados, cerca de 1.09 bilhão de pessoas, estão profundamente infectados com opiniões antissemitas. No Brasil, o número de adultos que possuem crenças antissemitas foi de 16 por cento, cerca de 22 milhões de pessoas.

A maior concentração de entrevistados com crenças antissemitas foi encontrada no Oriente Médio e países do Norte Africano (“MENA”), onde quase três quartos dos entrevistados, 74 por cento, concordaram com a maioria dos estereótipos antissemitas. Sendo, o Irã, o país da região do MENA com o menor índice de antissemitismo, com 56 por cento.  Os países fora da região do MENA têm um valor de índice médio de 23 por cento.

Todavia, de acordo com a ADL, há também algumas observações positivas e animadoras. Na maioria dos países de língua inglesa, a percentagem de pessoas com crenças antissemitas é de 13 por cento, muito inferior à média geral. Países de maioria protestante têm as mais baixas avaliações de crenças antissemitas, em comparação com qualquer outro país de maioria religiosa. E 28 por cento de todos os entrevistados não acreditam que qualquer um dos 11 estereótipos antissemitas avaliados seja “verdadeiro”.

A respeito do tema Holocausto, a pesquisa aponta que apenas 54 por cento de todos os entrevistados já ouviram falar do Holocausto, e que duas em cada três pessoas entrevistadas ou nunca ouviram falar do Holocausto ou não acreditam que os relatos históricos sejam exatos. Entre os entrevistados brasileiros, 79 por cento já ouviram falar do Holocausto, e 61 por cento ou nunca ouviram falar do Holocausto ou não acreditam que os relatos históricos sejam exatos.

Quanto ao tema Israel e Oriente Médio, de todos os entrevistados, 35 por cento possuem uma opinião favorável a Israel e 36 por cento possuem uma opinião favorável a Palestina. Entre os entrevistados brasileiros, 57 por cento possuem uma opinião favorável a Israel e 43 por cento possuem uma opinião favorável a Palestina. Em tempos que discute-se sobre a existência de uma relação entre antissemitismo e antissionismo, penso que poderiam ter feito mais perguntas sobre Israel e sionismo, ou até ir mais além e criar também um índice de antissionismo. Seria interessante comparar os índices de antissionismo com antissemitismo.

Sabemos que o antissemitismo é um fenômeno quase inexplicável, e a pesquisa da ADL está aí para provar. Por exemplo, por que nos EUA, as opiniões antissemitas são indiferentes ao gênero, isto é, homens e mulheres possuem o mesmo índice, mas na Nova Zelândia, os homens possuem um índice bem maior do que as mulheres? Por que o Panamá ultrapassa em muito todos os outros países das Américas, com um índice de 52 por cento? Por que há um índice tão baixo nas Filipinas, apenas 3 por cento? Por que a Malásia, um pais em que a presença judaica chega a ser quase nula, possui um alto índice de 61 por cento? Seria possível identificar as causas do grau de antissemitismo dos países?

Bem, os resultados existem para serem interpretados, porém é necessário ter bastante cautela para não cometermos equívocos. Há um livro, no mínimo interessante, cujo nome é Freakonomics, que aponta o problema em teorias que são muitas vezes validadas por correlações que não significam necessariamente causa e efeito. É preciso analisar bem a situação para encontrar a relação correta de casualidade, a fim de não cometer o erro da lenda do czar que foi informado de que a província com maior incidência de doenças era também a que contava com mais médicos. Sua solução? Mandou imediatamente fuzilar todos os médicos. A pesquisa da ADL pode nos mostrar fortes correlações entre algumas nações e religiões com o antissemitismo, porém antes de apontarmos uma relação de causa e efeito, devemos nos lembrar que o antissemitismo, definitivamente, não é um fenômeno tão fácil de ser explicado.

Em tempo, este artigo foi elaborado antes dos trágicos acontecimentos em Bruxelas e Paris. Ao ler sobre o assassinato no Museu Judaico de Bruxelas, logo fui checar o índice de antissemitismo da Bélgica, cujo valor é 27 por cento. O da França é 37 por cento. Será que é possível quantificar o antissemitismo? Ranquear os países? Será que um índice bem abaixo que a média mundial, como os 16 por cento do Brasil, traduza que o antissemitismo não é preocupante no tal país? Creio que não, o índice da ADL serve para comparar e analisar os países, porém, não é possível concluir se o Brasil é muito ou pouco antissemita, se países com índices acima dos 26 por cento serão, necessariamente, mencionados em notícias, ao redor do mundo, como local de atos antissemitas, e países com índices bem abaixo dos 26 por cento estarão livres desse mal. A pesquisa traz uma única certeza: o antissemitismo ainda está presente e precisa ser combatido.

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Mais informações sobre o ADL Global 100, inclusive comparações país por país, estão disponíveis on-line em http://global100.adl.org/

A Liga Antidifamação, fundada em 1913, é a organização líder mundial de combate ao antissemitismo por meio de programas e serviços que neutralizam o ódio, o preconceito e a intolerância.