Políticas da vizinhança: Israel e Palestina

O ano de 2014 tinha tudo para ser único na história dos conflitos mundiais, não fosse o conflito israelo-palestino. Apenas cem anos após o início da Primeira Guerra Mundial, e cerca de setenta após o término da Segunda, França e Alemanha celebram juntas o ano da amizade franco-alemã. Dois países que confundem as suas histórias nacionais com a história militar, celebram uma convivência pacífica e sem quaisquer tipos de incidentes armados ou revanchismos – fato impensável há setenta anos, diante daquilo que alguns historiadores defendem como sendo uma única guerra que se inicia com as guerras franco-prussianas e se estende até o final da Segunda Guerra Mundial.
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Neste contexto de rememorar a paz, no entanto, o conflito entre Israel e Palestina chama atenção por sua brutalidade e assimetria.
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Tenho certeza de que meus comentários não agradarão a todos. Na realidade, tenho a impressão de que eles não agradarão a ninguém. A ideia que defendo como única solução viável para o conflito, a necessidade de se pensar para além de Estados nacionais, traz algo de incômodo para ambos os lados. Aqueles que acreditam no sionismo me acusarão de estar defendendo uma sentença de morte contra mim mesmo, uma vez que parte da mitologia fundacional do Estado de Israel se baseia no pressuposto de que todos os judeus no mundo estão em perigo e apenas um Estado nacional poderá salvaguardar a sua proteção – pressuposto esse que era amplamente defendido após o extermínio dos judeus da Europa, mas que merece ser repensado atualmente. Já aqueles que criticam Israel de maneira cega, muitas vezes ignorando a origem da imigração judaica no genocídio perpetrado pelos europeus e misturando cultura judaica com a nação israelense, me acusarão de praticar uma crítica não radical o bastante contra o projeto sionista e o lobby judaico mundial – este último tema, para mim, resquício de um antissemitismo medieval que foi reavivado na sua versão moderna pelo nazismo.
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Meu interesse vai além de discutir os recentes acontecimentos políticos e militares, a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza e os foguetes lançados pelo Hamas contra o território israelense. Quero refletir sobre uma lógica de agressividade que subsiste como pressuposto ao conflito, e que pode nos ajudar a entender um pouco dos últimos acontecimentos: os usos políticos que são feitos de diferenças culturais por Estados nacionais, transformando vizinhos em diferentes, e daí na encarnação do mal, a ser eliminado.
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