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Produções israelenses e palestinas na 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

Nesta quinta-feira, 22/10, terá início a 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O evento apresenta 312 títulos de 62 países em 22 endereços, entre cinemas, espaços culturais e museus espalhados pela capital paulista, incluindo exibições gratuitas e ao ar livre.

Como de costume, o Fórum 18 lista as produções israelenses e palestinas que integram a programação.

Mais informações sobre a 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulohttp://39.mostra.org/

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10% MINHA FILHA / 10% YALDA SHELI

2014 | Israel | cor | digital | 83 min. | Ficção
Direção: Uri Bar-On

Franny tem sete anos. Nico, o novo namorado de sua mãe, tem 26. Para ficar com a mulher, o rapaz tem que ganhar o coração da menina. Ele quer ser diretor de cinema, mas não conseguiu nem terminar o filme de formatura. No dia em que se conhecem, Franny encontra Nico na cama da mãe. A partir desse momento, eles precisam achar uma maneira de conviver, amar e odiar um ao outro.

Datas e locais

22/10 (quinta) – 18:00 – Reserva Cultural 2
23/10 (sexta) – 19:30 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 5
30/10 (sexta) – 15:30 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 4
02/11 (segunda) – 14:00 – Cinearte 1
04/11 (quarta) – 19:00 – CCSP – Sala Paulo Emilio

BARASH / BARASH

2015 | Israel | cor | digital | 83 min. | Ficção
Direção: Michal Vinik

Naama Barash tem 17 anos, gosta de beber, se drogar e sair com amigos que têm o mesmo estilo de vida. Suas atitudes são uma fuga de seu lar, com os pais sempre brigando e a irmã, rebelde e militar, que um dia desaparece. Quando conhece uma nova aluna de sua escola, Naama se apaixona pela primeira vez. A intensidade da experiência a deixa confusa e lhe dá um novo significado à vida.

Datas e locais

25/10 (domingo) – 21:30 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 2
26/10 (segunda) – 15:15 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 3
31/10 (sábado) – 17:45 – Cinearte 1
01/11 (domingo) – 17:10 – Cine Caixa Belas Artes – Sala Spcine
02/11 – 14:00 – Cinearte 2

ESPORTE / SPORT

2015 | Israel, Palestina, França | cor | digital | 90 min. | Ficção, Documentário
Direção: Matan Gur, Lily Sheffy Rize, Tal Oved, Ahmad Barghouthi

Quatro cineastas, entre israelenses e palestinos, dirigem curtas documentais e de ficção tendo o esporte como tema. Em cinco segmentos, o filme mostra um time de futebol da Palestina, uma jovem corredora que competiu na Olimpíada de Londres, presidiárias que praticam ioga, surfistas de um vilarejo árabe em Israel e um policial que tenta ir ao estádio com o filho pela primeira vez. O projeto é continuação do longa-metragem Água (2012) exibido na 36ª Mostra.

sport

Datas e locais

22/10 (quinta) – 17:00 – Cine Olido
24/10 (sábado) – 18:00 – Sala Cinemário
25/10 (domingo) – 14:00 – Matilha Cultural
29/10 (quinta) – 16:00 – Sala Cinemário

NÓS, ELES E EU / NEY, NOSOTROS, ELLOS Y YO

2015 | Israel, Palestina, Argentina| cor | digital | 85 min. | Documentário

Em 2000, o diretor deste filme, originário de uma família judaica, viveu por alguns meses em Israel e na Palestina na companhia de uma câmera. Quinze anos depois, ele reconstrói sua viagem neste documentário.

Datas e locais

24/10 (sábado) – 19:00 – CCSP – Sala Paulo Emilio
25/10 (domingo) – 20:00 – Espaço Itaú de Cinema – Augusta 1
27/10 (terça) – 21:45 – Espaço Itaú de Cinema – Augusta Anexo 4
03/11 (terça) – 15:30 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 6
04/11 (quarta) – 21:30 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 5

Conferência “Encontros e Diálogos entre Palestinos e Israelenses – Dilemas e Perspectivas nos Caminhos Para a Paz”

Proposta Arte Conferência

A Comissão da Anistia do Ministério da Justiça do Brasil e a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, com a participação da Universidade Al-Quds e do Centro Truman para o Avanço da Paz da Universidade Hebraica de Jerusalém, promovem a Conferência “Encontros e Diálogos entre Palestinos e Israelenses: Dilemas e Perspectivas nos Caminhos Para a Paz” que será realizada nos dias 27 a 29 de agosto em São Paulo e no dia 30 de agosto na cidade do Rio de Janeiro.

O objetivo do evento é oferecer ao público brasileiro múltiplas visões de palestinos e israelenses que estão buscando o caminho para a paz. O evento visa permitir que intelectuais palestinos e israelenses e outros atores políticos apresentem e debatam propostas para a resolução do conflito em um contexto pluralista e de mútuo respeito. Dessa forma, foram escolhidos temas-chave relacionados com o conflito para que israelenses e palestinos possam apresentar as suas perspectivas, visões e dilemas. O encontro será realizado na língua inglesa e cada painel também incluirá um estudante palestino e um israelense que atuarão como comentaristas. 

Abaixo encontra-se o programa das atividades:

São Paulo – Quinta-feira, dia 27 de agosto

Realização: Comissão da Anistia do Ministério da Justiça do Brasil, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e Fundação Getúlio Vargas

Inscrições: São Paulo (FGV): enviar nome e RG ao e-mail coordcgapn@fgv.br

Local: Salão Nobre da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Fundação Getulio Vargas,  4º. andar da Av. Nove de Julho, 2029 – Bairro Bela Vista – São Paulo/SP.

16:00 –  Abertura da Solenidade: Paulo Abrão, Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça do Brasil e Aurélio Rios, Procurador Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, Prefeito Municipal de São Paulo, Fernando Haddad (a confirmar) e representante da Fundação Getulio Vargas.

16:30 – Painel 1: Religião, Palestinos e Israelenses

Palestina:  Xeque Barakat Fawzi Hasan, Diretor Geral do Centro Jerusalém de Estudo e Mídia Islâmica

Israel: Rabino David Shlomo Stav, líder do Grupo Tzohar

Estudantes: Essam Qadri (palestino), Itamar Ben Israel (israelense)

Moderador: Heni Ozi Cukier (ESPM/FGV).

18:00 – Encerramento

São Paulo – Sexta-feira, dia 28 de agosto

Realização: Comissão da Anistia do Ministério da Justiça do Brasil, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e Fundação Getúlio Vargas

Inscrições: São Paulo (FGV): enviar nome e RG ao e-mail coordcgapn@fgv.br

Local: Salão Nobre da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Fundação Getulio Vargas, 4º. andar da Av. Nove de Julho, 2029 – Bairro Bela Vista – São Paulo/SP.

11:00 – Painel 2: Política e Acordos Internacionais

Palestina: Mohamed Amer Odeh Abdel Hadi, Presidente do Comitê Ibero-Americano da Al Fatah 

Israel: Dan Meridor, ex-Ministro do Estado de Israel

Estudantes: Bashar Farash (palestino), Chen Reuveni (israelense)

Moderador: Prof. Guilherme Casarões (FGV).

14:30 – Painel 3: Economia, Conflito e a Região

Palestina: Aziz Haidar, professor da Universidade Al-Quds

Israel: Nitzan Horowitz, ex-deputado do parlamento israelense, membro da Comissão Regional de Desenvolvimento Econômico

Estudantes: Eman Atari (palestina), Rinah Lipsky (israelense)

Moderador: Fernando Abrucio (FGV).

17:00 – Encerramento – Painel: Palestina-Israel: Perspectivas e Dilemas 

Brasil: Michel Gherman (NIEJ/UFRJ), Bernardo Sorj (IEA/USP), James Green (Universidade Hebraica de Jerusalém) e Guilherme Casarões (FGV).

 

São Paulo – Sábado, dia 29 de agosto

Realização: Comissão da Anistia do Ministério da Justiça do Brasil, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, Fórum 18 e Jovens Sem Fronteiras / Hebraica

Inscrições: Para se inscrever, clique aqui

Local: A Casa, Rua Ibiapinópolis, 762 – Jardim Paulistano – São Paulo/SP.

19:30 - Painel sobre dilemas e esperanças na resolução do conflito

Palestina: Mohamed  Amer  Odeh  Abdel  Hadi,  Presidente do Comitê Ibero-Americano da Al Fatah

Palestina: Xeque Barakat Fawzi Hasan, Diretor Geral do Centro Jerusalém de Estudos e Mídia Islâmica

Israel:        Nitzan Horowitz, ex-deputado do parlamento israelense, membro da Comissão Regional aaaaaaaaaade Desenvolvimento Econômico

Israel:        Rabino David Shlomo Stav, líder do Grupo Tzohar

21:30 -  Roda de conversa com Jovens Estudantes Palestinos e Israelenses: Paz e Futuro

22:30 - Confraternização

Rio de Janeiro – Domingo, dia 30 de agosto

Realização: Comissão da Anistia do Ministério da Justiça do Brasil, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e Centro Cultural Midrash

Informações: Para mais informações, clique aqui

Local:  Centro  Cultural  Midrash, Rua  Venâncio  Flores,  184  – Leblon  –  Rio  de Janeiro/RJ

15:00 – Abertura:  Paulo Abrão, Presidente da  Comissão de Anistia do Ministério da Justiça do Brasil

15:30 - Estações para a Paz: Jovens brasileiros, palestinos e israelenses discutem dilemas para a paz

17:30 – Painel 1: Religião, Palestinos e Israelenses

Palestina: Xeque Barakat Fawzi Hasan, Diretor Geral do Centro Jerusalém de Estudos e Mídia  Islâmica

Israel: Rabino David Shlomo Stav, líder do Grupo Tzohar

20:00 – Painel 2: Economia, Conflito e a Região

Palestina: Mohamed Amer Odeh Abdel Hadi, Presidente do Comitê Ibero-Americano da Al Fatah

Israel: Nitzan Horowitz, ex-deputado do parlamento israelense, membro da Comissão Regional de Desenvolvimento Econômico

Não, o BDS não discrimina Israel de forma injusta

Traduzido do original por Marcel Beer Kremnitzer

Ironicamente, o movimento de boicote demonstra algum nível de fé na democracia israelense, ao crer que alguma pressão pode motivá-la a mudar

Stock photo boycott activists in France. (Photo by Olga Besnard/Shutterstock.com)

Quando a última flotilha partiu mar adentro a Gaza, para protestar contra os oito anos de bloqueio israelense, o primeiro-ministro Netanyahu escreveu uma carta aberta aos ativistas. Em tom altamente sarcástico, sugeriu que eles haviam tomado uma curva errada no caminho da Síria. É parte de um discurso obsessivamente repetido: “Há violações piores por aí, mas ninguém nunca protesta contra elas. Portanto, denunciar a ocupação em nome dos palestinos é hipocrisia, antissionismo ou antissemitismo. Portanto, tudo isso pode ser ignorado.” Em nenhum lugar esse argumento é mais repetido do que como resposta aos esforços de boicotes, desinvestimento e sanções (BDS) contra Israel.

Numa primeira análise, esse ponto é genuinamente tocante. Ninguém que alegue preocupar-se com direitos humanos pode dormir à noite sabendo o que está acontecendo com milhões de sírios; eles estão sendo deslocados à força, expulsos e massacrados.

O problema não é que pessoas progressistas não liguem para essa tragédia. O problema é que as acusações de indiferença mundial são puramente falsas. Independentemente de você apoiar ou sentir desprezo pelo boicote a Israel, chegou a hora de parar de taxá-lo de hipócrita.

Comecemos pelas sanções. Os Estados Unidos e a Europa colocaram em vigor, ambos, sanções ao Irã por violações a direitos humanos – não por pesquisas nucleares. Sanções internacionais com o intuito de dar fim a crimes contra direitos humanos começaram muito antes da alegada “discriminação hipócrita” contra Israel, inclusive antes da ocupação dos territórios palestinos.

Em 1965, a Grã-Bretanha colocou em vigor sanções contra a Rodésia; então, um ano depois, pela primeira vez na História, o Conselho de Segurança da ONU autorizou sanções internacionais, pelos próximos 14 anos, contra esse governo da minoria branca, até que a Rodésia criou um governo mais justo e tornou-se o Zimbábue. (Israel, acidentalmente, foi um dos países que desrespeitou as sanções – demonstrando, ao menos, coerência moral e política.)

A ONU impôs sanções contra o Iraque (em 1990, pelo tratamento dado aos kuwaitianos durante a invasão desse país) e contra a Iugoslávia no começo dos anos 90, pelo tratamento de suas minorias étnicas. Nesses casos, as sancões precederam intervenções militares internacionais, algo que nunca esteve perto de ser considerado pelo Ocidente no caso de Israel.

Outros países, notáveis em termos de desrespeito aos direitos humanos, foram colocados sob regimes internacionais de sanções, como Sudão, Somália e Serra Leoa. Incluindo sim, ela mesma, a Síria. A acusação de “discriminação” contra Israel é simplesmente falsa.

E os crescentes boicotes originados entre acadêmicos e artistas? Qual o motivo para não se voltarem contra Coréia do Norte, ou o Estado Islâmico?

ISIS conducting a mass execution in the ancient city of Palmyra, Syria.

Em primeiro lugar, celebridades provavelmente querem apoiar o que eles entendem ser o lado mais fraco, que precisa de mais atenção, a qual eles podem atrair. A narrativa israelense prevaleceu no Ocidente pelo maior parte do tempo que tem durado a ocupação dos territórios palestinos. O povo palestino foi essencialmente ignorado; rotulado coletivamente como terrorista; e seus desejos e experiências de vida, sob a ocupação israelense, mal interpretados ou ignorados. A última década de atenção à realidade palestina pode ser encarada como um pêndulo vindo em favor deste povo.

Celebridades podem achar que a atenção que elas têm não é necessária para as vítimas do Estado Islâmico. Todos concordamos que ser afogado, decapitado, empurrado do alto de um prédio ou queimado com ácido é medonho e abominável.

Em segundo lugar, é interessante trabalhar para uma causa na qual existe uma possibilidade real de fazer a diferença. A Coréia do Norte é uma fortaleza impenetrável, a qual dá de ombros para argumentos ligados a direitos humanos ou democracia, se é que minimamente os considera.

No entanto, justamente por Israel ter um ethos democrático, sendo parte do Ocidente e dialogando com ele, ativistas acreditam que há ganhos a se obter. Eles estão certos. Se Israel quer ser mais democrático com todos sob seu controle, certamente possui o funcionamento e o pensamento político para que isso aconteça. Por considerar-se um país democrático, a quase pentagenária ocupação dos territórios palestinos fica ainda mais ofensiva.

Há, porém, uma razão ainda mais simples para estudantes, celebridades, acadêmicos e outros indivíduos clamarem pelo boicote a Israel e não a outros países: os palestinos pediram isso.

O movimento BDS é definitivamente problemático. Há uma lacuna entre seus objetivos declarados e a ideia, às vezes exposta pelos seus apoiadores, que sem acabar com o Estado de Israel não haverá sucesso. Os ativistas do BDS podem ser agressivos e coercitivos. O boicote – especialmente contra a Cisjordânia – pode afetar mais aos palestinos que aos demais, tirando seus empregos.

Esses problemas são significativos. No entanto, assim como Israel espera que seus apoiadores sigam juntos (stand with us) apesar de seus problemas, também os palestinos pedem que as pessoas permaneçam ao lado deles a despeito de suas falhas. O movimento anti-apartheid sul-africano imolou colaboradores. Isso não impediu governos e corporações ocidentais, e todos no meu ensino médio, de orgulhosamente aderir ao boicote da África do Sul. Nós não odiávamos os brancos sul-africanos, e os aderentes ao boicote atual não são antissemitas automáticos. Eles só concluíram que é importante ter solidariedade, e o boicote é o que os palestinos pediram como ajuda.

Em todo caso, quais são as outras opções? Será que aqueles que pedem por liberdade aos palestinos deveriam protestar contra a ocupação da maneira que a força ocupante deseja? Na verdade, Israel rejeita todas as formas de protesto neste tópico. Violência é, obviamente, errada. Ações diplomáticas são rotuladas de tramóia antissionista. Demonstrações populares sem armas em vilarejos da Cisjordânia são reprimidas com gás lacrimogênio, água imunda, prisões e mortes. Negociações (fracassadas) são invariável e totalmente culpa dos palestinos. O boicote é chamado de “terrorismo econômico” – e, claro, hipocrisia.

Pro-Israel protesters hold signs condemning BDS as racist, New York, June 1, 2014. (Illustrative photo by A Katz/Shutterstock.com)

Se o movimento de boicote é acusado de querer eliminar o Estado de Israel, os agressivos mensageiros “pró-Israel” têm como objetivo o esquecimento geral e total da ocupação dos territórios palestinos. Defensores das políticas israelenses devem responder a essa acusação se esperam uma posição razoável do BDS.

Caso contrário, ativistas continuarão enxergando a hipocrisia de Israel: uma democracia que mantém pessoas acorrentadas. Um país que poderia mudar, precisamente por ser “a única democracia do Oriente Médio”. Estranhamente, provavelmente de uma maneira não-intencional, os protestos dos ativistas do BDS mostram a fé que têm que Israel, no fim, honrará seus valores democráticos se for um pouco mais pressionado, ou se eles puderem revelar as contradições internas aos israelenses que não as enxergam.

Alguns ativistas não querem só berrar suas opiniões. Eles querem concretizar algo, mesmo que não seja algo perfeito. Nós provavelmente acharíamos isso louvável, fosse a favor de qualquer outra causa.

Temos que enfrentar o BDS em nome dos direitos humanos

Por Rabino Jonathan Sacks

Existe uma preocupação crescente e generalizada entre os judeus em Israel e no exterior, também entre os amigos de Israel por todos os lados, sobre a crescente ameaça que do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções). Em três conferências nos últimos dias – em Las Vegas convocada por Sheldon Adelson e Haim Saban, em Nova York pelo The Jerusalem Post, e no Centro Interdisciplinar de Herzliya, na qual pude discursar – a discussão sobre o movimento BDS e como lidar com ele, atraiu os holofotes.

Nossa luta contra este movimento não será fácil, nem será ganha numa noite, sem uma cooperação, determinação e apoio. Mas é uma luta que podemos e devemos ganhar, não apenas pela sobrevivência de Israel ou a segurança do povo judeu, mas pelo mundo. Mas, para entender como ganhar esta luta, é preciso olhar de fora e enxergar o fenômeno mais amplo do qual faz parte.

Primeiramente, cabe declarar o óbvio: o movimento BDS, não é, por si só, anti-semita. Muitos de seus partidários compartilham de uma genuína preocupação com os direitos humanos, que qual acredito que todos nós, compartilhamos. Suas reivindicações devem ser ouvidas de forma honesta e abertamente, assim como aquelas feitas pelos defensores de Israel.

As universidades, em particular, devem estar atentos para garantir a liberdade de expressão, o que significa escutar respeitosamente pontos de vista contrários ao seu próprio. Uma pré-condição fundamental para a justiça é a “Aude alterem partem” – ouvir o outro lado. Caso contrário, as universidades estariam em perigo de se tornar, aquilo que Julian Benda desceveu, em The Treason of the Intellectuals, ambientes para “a organização intelectual de ódios políticos.”

No entanto, o maior fenômeno que molda o pano de fundo para o movimento BDS tornou-se, ainda mais claro no decorrer do século 21. É a mais recente encarnação da negação aos judeus, como uma fé diferente e um povo, o direito de existir: o direito de se autogovernar na terra de seus antepassados.

O anti-semitismo não é um fenômeno estático. É um vírus que se transforma, derrotando assim o sistema imunitário de sociedades livres. Durante a Idade Média, os judeus foram odiados por sua religião. Durante o século 19 e no começo do século 20, eram odiados por sua raça. Hoje são odiados pelo seu Estado-nação. Por mil anos eles foram a mais evidente presença não cristã numa Europa cristã. Hoje, o Estado de Israel é o mais óbvio não islâmico estado no meio de uma maioria muçulmana no Oriente Médio. O anti-semitismo não é somente sobre judeus. É uma ofensa contra a dignidade fundamental da diferença.

Ao contrário do pressuposto popular, não é fácil justificar o ódio em um discurso público. É por isso que os anti-semitas sempre buscaram a validação da fonte mais elevada de autoridade dentro de uma determinada cultura. Na Idade Média, era a religião. A religiosa, Judeofobia. No século 19, era a ciência, na forma do chamado estudo científico da raça, e o “darwinismo social”, a crença de que a sociedade funciona como a biologia, em que o mais forte sobrevivem ao eliminarem os mais fracos.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial a maior fonte de autoridade tem sido os Direitos Humanos. E é por isso que, durante as sessões paralelas das ONGs que acompanharam a notória Conferência das Nações Unidas contra o Racismo em Durban, poucos dias antes de 9/11, Israel foi acusado de cometer os cinco pecados cardeais contra os direitos humanos: o racismo, o apartheid, crimes contra a humanidade, limpeza étnica e tentativa de genocídio. Hoje qualquer ataque contra os judeus deve ser redigido na linguagem dos direitos humanos.

A maneira mais simples de compreender este ataque atual contra o Estado de Israel é que, em 1948, 1967 e 1973, seus inimigos procuraram empurrá-lo para uma crise militar, e falharam. Em 1973, com o boicote internacional tentaram empurrá-lo para uma crise econômica, e falharam. Em 1975, com o “sionismo é racismo” repercutido nas Nações Unidas procuraram empurrá-lo para uma crise política, e falharam. Em 2001 e 2002, com as ondas implacáveis de atentados suicidas, tentaram empurrá-lo para uma crise psicológica, e falharam. Agora, com o movimento BDS, entre outros, os inimigos de Israel estão tentando empurrá-lo para uma crise moral, e até certo ponto, estes podem obter algum sucesso.

O primeiro sinal disso é que entre os jovens judeus, Israel – que já foi o grande fator de unificação entre os judeus de todo o mundo – tornou-se, pelo menos em alguns círculos, um fator divisivo. A segunda é a tentativa de fazer a opinião pública nas sociedades europeias tão hostis a Israel que, eventualmente, alguns judeus poderão sentir-se obrigados a fazer uma escolha, entre apoiar Israel, por um lado, ou de viver na Europa, por outro lado – alerta feito há alguns anos atrás pelo intelectual francês e judeu, Alain Finkielkraut. Isto deve ser combatido da mesma forma que muitos judeus têm feito em nome dos próprios direitos humanos. Israel continua a ser a única verdadeira democracia no Oriente Médio, com uma imprensa livre e um Judiciário independente, o único lugar onde as minorias religiosas podem viver sua fé, com segurança.

O objetivo final, obviamente, é deixar Israel tão isolado na arena internacional que seus inimigos possam facilmente traçar o caminha para sua destruição, D’s me livre, sem o medo de que represálias, que não sejam de Israel, virão.

O renascimento desta forma mutante de anti-semitismo, na ainda viva, memória do Holocausto, deveria ser assustadora para qualquer um com um verdadeiro sentido de humanidade. Um ataque a judeus ou ao Estado Judeu nunca se limita a somente os judeus. Se trata de uma agressão à própria liberdade religiosa. Hoje, quando cristãos estão sendo perseguidos e muçulmanos assassinados pelas forças do Islã radical político, todos aqueles que se importam com direitos humanos, particularmente os governos europeus e suas comunidades judaicas, deveriam se juntar com o governo israelense, em sua defesa, recusando-se a permitir que a causa seja sequestrada por aqueles cuja agenda final não é a liberdade e nem a democracia, mas sim, algo completamente mais velho, mais escuro e muito mais perigoso.

Traduzido e enviado por Dov Zellerkraut, do texto original, publicado no Jerusalem Post, em 11/jun/2015.

Tradução publicada originalmente na página Consensus, em 17/jun/2015.

Bo, Caetano. Bo, Gil.

Caetano Veloso e Gilberto Gil anunciam show em Tel Aviv no dia 28 de julho, como parte da turnê internacional da dupla. O movimento BDS (Boicote, Desenvolvimento e Sanções contra Israel) se mobiliza em torno do pedido para que a dupla cancele a apresentação. Apesar das assessorias dos cantores garantirem que o show será mantido, a pressão pelo cancelamento continua, e a campanha recebe o apoio de personalidades como o ex-integrante do Pink Floyd, Roger Waters.

O BDS e o apartheid

O BDS importou o diagnóstico “apartheid” e a solução “boicote” da Africa do Sul. O cerne da questão e as discussões ficam em torno do diagnóstico – se Israel possui ou não um regime de apartheid – deixando de lado o debate sobre a solução – o boicote e os reais objetivos do movimento BDS. Concordo que é necessário dizer que o BDS erra no diagnóstico, pois Israel não possui um regime de apartheid e sua realidade é distinta da Africa do Sul do passado. Porém, o erro maior está na solução, que diferente do boicote a Africa do Sul – em que visava apenas a queda do regime do apartheid, sem colocar em risco a existência do país – o boicote proposto pelo BDS pode levar ao fim do Estado de Israel. Ou seja: a solução do BDS não objetiva apenas terminar com o suposto regime do apartheid, mas também a inexistência do Estado de Israel. Portanto, ainda que o BDS acertasse no diagnóstico, a solução proposta teria efeitos colaterais perversos ao Estado de Israel, seria extremamente danosa.

Afinal, qual o objetivo do BDS?

Nesse texto me atentarei em torno da solução “boicote” e não do diagnóstico “apartheid”. Digo isso, porque mesmo se o diagnóstico estivesse correto, isto é, houvesse apartheid em Israel, manteria as minhas críticas ao BDS. Por que? A resposta está na solução proposta – no objetivo do movimento BDS, no que dizem e no que se omitem. Pode ser lido abaixo, na íntegra, ou no vídeo do Norman Finkelstein.

O movimento BDS elenca 3 pontos para que o boicote cesse.

1. Acabar com a ocupação e colonização de todas as terras árabes ocupadas em junho de 1967 e desmantelar o Muro;
2. Reconhecer os direitos fundamentais dos cidadãos árabes-palestinos de Israel em plena igualdade;
3. Respeitar, proteger e promover os direitos dos refugiados palestinos a voltar para suas casas e propriedades, tal como estipulado na resolução 194 da ONU.

Somando os 3 pontos, chego a conclusão que o BDS não é um movimento “contra a ocupação israelense na Cisjordânia”, e sim “contra a existência do Estado de Israel.” Explico abaixo:

Os itens 1., 2. e 3. devem ser analisados juntos. O que se peticiona nesses itens é o direito de retorno dos refugiados palestinos, e que se conceda a eles direitos fundamentais. Logo, o Estado de Israel passaria a ter maioria árabe, permaneceria com o seu caráter democrático, porém o caráter judaico estaria em risco. Resultado: O Estado de Israel perderia sua identidade e deixaria de ser um Estado Judeu.

O objetivo do BDS se torna mais claro se a leitura dos 3 pontos é feita de forma contrária. Primeiro – a volta dos refugiados palestinos; segundo – conceder direito fundamentais aos árabes-israelenses; a soma dos dois primeiros pontos, resulta no terceiro – acabar com a ocupação e colonização de todas as terras árabes.

Agrava-se a isso, o fato do BDS se utilizar do Direito Internacional para endossar sua crítica a ocupação militar israelense na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ao mesmo tempo em que se omite a aceitar o Estado de Israel, legitimado pelo mesmo Direito Internacional, nas fronteiras de antes de junho de 1967. Ou seja: para o BDS, o Direito Internacional se mostra válido para definir a ocupação militar israelense, mas não para definir as fronteiras legais do Estado de Israel.

Colocado os 3 pontos junto a omissão ao reconhecimento do Estado de Israel nas fronteiras pré-1967, não me resta dúvidas que os objetivos do BDS levariam ao fim do Estado de Israel, aqui cabe a principal crítica. E digo mais, mesmo se houvesse apartheid, o que o BDS propõe como solução não é aceitável. Pois, não se propõe que o suposto regime de apartheid cesse por meio de uma reformulação de sua política perante aos seus cidadãos. O que se propõe é a extinção do país, o desaparecimento de sua identidade e existência.

BDS antissemita ou antissionista?

Muitos se referem ao BDS como um movimento antissemita, o que provoca um debate, será que o BDS é antissemita, ou será que é antissionista? A questão da termologia sempre incomoda a muitos, acredito que o debate esteja no entendimento e significado do que é antissemitismo. Porém não entrarei nesse debate, optarei por expor apenas o quão repugnante é ser antissionista.

Hoje vemos o cuidado que muitos possuem para distinguir o antissionismo do antissemitismo. Mas há outra distinção, na minha percepção, menos abordada, entre o antijudaísmo e o antissemitismo. A distinção se dá no entendimento do judeu como “religião” ou “raça”. Enquanto no antijudaísmo se persegue o indivíduo pela prática religiosa do judaísmo ou por pertencer a religião judaica, no antissemitismo se persegue o indivíduo por ele pertencer a “raça” judaica.

Seguindo essa linha de racíocinio, o antissionismo atual me parece próximo com o antijudaísmo do passado. Pois o antissionismo não persegue todos os judeus. Tal como o antijudaísmo que “concedia a oportunidade” do judeu se converter ao catolicismo para que assim deixasse de ser perseguido; de forma similar, os antissionistas não perseguem aqueles que se converterem a sua ideologia: ao antissionismo. Pois, tanto o antijudaísmo quanto o antissionismo perseguem crenças e ideologias, onde há a possibilidade de escolha em pertencer ou não; ao passo que o antissemitismo persegue uma “raça”, onde não há a possibilidade de escolha em pertencer ou não.

Na minha percepção, o antissemitismo e o antijudaísmo se tratam da mesma perseguição e ódio em tempos e cenários diferentes. Enquanto a Europa tinha grande influência católica, era fácil justificar e alimentar o ódio aos judeus, pois pertenciam a outra religião. Porém, quando a Europa deixa de ter influência religiosa, o antijudaísmo precisa ser reinventado, surge a teoria das raças, e a perseguição aos judeus é justificada e alimentada por ser da raça judaica. Sai de cena o antijudaísmo para dar espaço ao antissemitismo.

Porém, assim como as justificativas religiosas, a teoria das raças, com o  passar do tempo, perde sua força e influência, e o antissemitsimo precisa, novamente, ser reinventado. Agora não os perseguem por pertencerem a religião judaica ou a raça judaica; os perseguem por pertencerem a nacionalidade judaica, por serem sionistas.

Seja o BDS antissemita ou antissionista, condeno igualmente. Antissionismo é tão repugnante quanto o antissemitismo e o antijudaísmo.

Sobre o título 

Por fim, explico o trocadilho forçado e sem graça que é o título desse texto. Em hebraico a palavra Bo (בוא) é utilizada para chamar alguém, traduzindo ao português: venha. Enquanto o BDS clama: Boicote! Caetano e Gil. Digo: Bo, Caetano. Bo, Gil. Venha, Caetano. Venha, Gil.

Rodada de perguntas a Reda Mansour – Embaixador de Israel no Brasil

No dia 26 de abril, às 19h, o Fórum 18, com o apoio da B’nai B’rith, receberá o Embaixador de Israel no Brasil, Reda Mansour, para uma rodada aberta de perguntas. O encontro acontecerá na sede da instituição, à rua Caçapava, 105 – 4º andar. Jardins. São Paulo-SP.
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Nascido em 1965 na aldeia druza de Isfyia, hoje Ir haKarmel, no distrito de Haifa, e formado em História do Oriente Médio pela Universidade de Haifa, Reda Mansour foi o primeiro diplomata não-judeu a serviço do Estado de Israel. Desde agosto de 2014 é o embaixador de Israel no Brasil, depois de atuar em cargos diplomáticos em países como Estados Unidos, Portugal e Equador. É ainda autor de quatro livros de poesia, sendo o primeiro autor de origem não-judaica a escrever e publicar integralmente em hebraico.
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forum18 reda mansour

Afinal de contas, de que judaísmo estamos falando?

Ontem tive a oportunidade de participar de uma mesa sobre Israel como Estado judaico e democrático. O tema, que na verdade era uma pergunta, trazia em si a inquietação da busca pela própria identidade.

Como acontece nestas ocasiões, o tempo era curto, e despertou mais questionamentos que respostas, o que vem bem a calhar para um título que nos brinda com uma interrogação.

Eu parti do princípio de que se Israel é um Estado judaico, e o debate amplo e inclusivo um valor central no judaísmo, não existe a possibilidade de que não seja democrático, caso contrário, seu próprio caráter judaico estaria ameaçado.

Existe sim, um sem número de contradições internas que ameaçam esta estrutura, mas entendo que mantenham o princípio democrático enquanto fizerem parte do debate. O perigo é a cristalização, a passividade, ou ‘chas vechalila’, um estado (agora em minúscula) morno e sem vida.

O breve debate que se seguiu, deixou uma pergunta em aberto, que ficou dançando dentro de mim, e pede passagem aqui. ‘Afinal de contas, de que judaísmo estamos falando?’ Aqui vão algumas reflexões que brotaram ao dirigir, na hora do banho, ou antes de dormir. Daquelas coisas que ficam buscando seu lugar, e só podem realmente existir se forem paridas.

A tua inquietação, Rodrigo, não somente é legítima, como reflete a pulsação de todo um povo, seja em Israel ou na diáspora.

De todos, eu te diria, Rodrigo, de todos. Do mais tradicional àquele mais assimilado. Daquele que vive, come, veste, reza e respira o judaísmo a cada minuto, àquele que o nega. Se realmente queremos preservá-lo como um sistema de valores essenciais, teremos que lidar com aquele que uma vez judeu, se declare ateu, e que queira a todo custo se desvencilhar de suas raízes, até aquele que dessacraliza não somente mesquitas e igrejas, mas escolas onde estudam também, crianças judias. Mesmo que a tentação da negação, principalmente no segundo caso, seja grande, não há meios de nos livrarmos dele. Se queremos que o judaísmo seja possível, teremos que acolher e encontrar maneiras de lidar com todas as suas nuances, onde lidar não significa fazer vista grossa.

Se, por princípio, ninguém se livra de sua condição judaica – o que a história recente já nos deu provas suficientes de sua veracidade – seu oposto também é verdadeiro: o judaísmo não se livra de ninguém.

Portanto, Rodrigo, a tua pergunta traz a beleza mais profunda do judaísmo. Ser judeu é ser um em suas escolhas, e ser todos, por condição. Como povo, somos responsáveis pelo que acontece ao nosso redor. Não temos como afirmar que não nos diz respeito. Porque diz. Mas também, não cabe a ninguém nos dizer como ser judeus. Porque somos fruto do debate e da indignação, e é isto que nos mantém vivos por milênios.

Obrigada, Rodrigo, pela luz.

 

Texto publicado originalmente no blog pessoal da autora.

Shabbat em Holot

Para uma semana após o protesto na Dizengoff, em Tel Aviv, marcou-se uma visita ao campo de refugiados de Holot. Enquanto um ônibus partia do parque Levinsky, em frente à Estação Central de ônibus de Tel Aviv, alguns outros carros – uma centena, aproximadamente – partiam das diversas cidades de Israel em direção ao deserto do Neguev. Às dez da manhã eu encontraria Yael na conhecida “Praça dos Gatos” (Kikar haHatulim) e seguiríamos em um carro cheio a Holot. Desde a Givat haTsarfatit, região nordeste de Jerusalém, para além da linha verde do armistício de 1949, até a região central da cidade são cinquenta minutos de caminhada. Talvez quarenta se eu me atrevesse a cruzar o bairro ultra-ortodoxo de Mea Shearim em pleno shabbat com meus trajes não exatamente modestos. Não vejo nenhuma vantagem em ofender. Prefiro meus dez minutos a mais observando o movimento típico do shabbat: poucos carros, crianças brincando na rua, os passarinhos em suas atividades matinais – e os corvos! Como eu amo os corvos! No caminho entre a universidade e o alojamento sempre passo pelo Cemitério Britânico, e inevitavelmente paro um minuto para ouvir os corvos de Jerusalém. E, quando se apressam em sair de perto de mim, correm a pulinhos desengonçados até que juntam forças para alçar voo… – O shabbat em Jerusalém é muito complexo, como tudo por aqui. Naquele sábado, passei pela haNeviim, para mim a rua que é um microcosmos da cidade (santa?): começa no Portão de Damasco, entrada ao bairro árabe muçulmano da Cidade Velha, e segue até a praça Kol Israel Chaverim, nome hebraico da Alliance Israélite Universelle, passando por algumas igrejas e organizações cristãs das mais diversas origens – etíopes, francesas, russas – e, claro, paralela ao bairro ortodoxo. “Shabbes! Shabbes! Shabbes!”. Os carros que passam pela haNeviim aos sábados já sabem que um grupo de ortodoxos está a postos para lembrá-los de que oras! É shabbat!

holot-entrada

Por fim, como combinado, cheguei à Praça dos Gatos. Éramos cinco – três israelenses, um canadense e eu. E um porta-malas carregado de injera, comida típica etíope e eritreia, que havia sobrado de uma festa temática organizada na quinta-feira em apoio às comunidades de africanos em Jerusalém. Começamos nossa viagem de duas horas e meia. “Faz parte disso tudo. Quanto mais longe das cidades, melhor.”, comentou ironicamente Yael, membro de um grupo recém-organizado como uma ONG chamado Jerusalem African Community Center. No percurso, enquanto, passando por vilarejos de tendas beduínas, adentrávamos o deserto do Neguev, ela, que já conhece a situação dos refugiados de perto e já havia estado diversas vezes em Holot nos últimos tempos, explicava-nos detalhes. No momento os “hóspedes” – a palavra usada é dayarim, que não é exatamente hóspede, mas tampouco expressa a situação real dos refugiados – estão sem aquecimento. Muitos insistem, principalmente quando se fala sobre Gaza, que o inverno esse ano não é dos mais rigorosos, e é verdade: na região sul, as temperaturas chegaram apenas a 0ºC. E tem a questão das emendas da lei. Em setembro a Suprema Corte decidiu, pela segunda vez, que a existência de Holot é inconstitucional. E pela quinta vez, em vez de acatar as decisões da Justiça e fechar o centro de refugiados, o governo israelense criou uma nova emenda. Agora os “hóspedes” precisam assinar o ponto apenas uma vez por dia em vez de três vezes ao dia. Além disso, o tempo máximo de detenção foi delimitado: vinte meses. E as organizações se perguntam – e ainda não obtiveram resposta alguma – sobre o destino dos refugiados depois desses vinte meses. Ninguém sabe. A lei não menciona. O campo existe desde dezembro de 2013, um ano e um mês. Nenhum detento chegou aos vinte meses.

cerca-holot

Chegamos a Holot. Um campo cercado, protegido por arame farpado. À entrada, Sherut Batei haSoher – Merkaz Sihiyah Holot (algo como “Serviço Penitenciário – Centro de Estadia Holot”). Uma ironia. O contraste entre “Centro de Estadia” e “Serviço Penitenciário” é gritante. Talvez não para os hóspedes. Eu tento tomar cuidado ao reproduzir a história de vida do outro – corro o risco de facilitar o trabalho do inimigo. Reproduzir a fala de cada um como paradigmática me parece uma forma de desumanizá-los, continuando o trabalho daqueles que os detiveram. Ouvimos eritreios e sudaneses. A política do governo é deter os homens solteiros, jovens e sem problemas de saúde que cruzaram a fronteira antes de 2009 e 2008 (as ondas de refugiados sudanesa e eritreia não tiveram início ao mesmo tempo). A maior parte deles já está há cerca de seis ou sete anos em Israel. Já falam hebraico e já estavam praticamente integrados, dentro do que é possível para um “imigrante ilegal”, à sociedade israelense. As histórias são muito diversas. Entre os refugiados há, em geral, apenas dois pontos em comum: o perigo que corriam – e ainda correm, caso cedam às pressões da política do governo e decidam retornar – em seu país natal e a “casa” no meio do deserto do Neguev que compartilham. Sequer as línguas são as mesmas. “No Sudão, há cerca de quinhentas línguas distintas. Menos na escrita. É tudo escrito em árabe.”. Nos sentamos em roda e ouvimos quem quisesse falar. Um a um. Descreviam a situação de forma semelhante: quando precisam de tratamento, há um único remédio que supostamente cura tudo, “se dói a perna, o ouvido, o joelho, se tenho febre…”; a comida é sempre fria, um ovo, um pouco de arroz; e tem os aquecedores… Ou melhor: não tem os aquecedores. Por vezes ouvimos dos refugiados que eles não querem reclamar dos problemas de Holot. Eles não querem melhoras em Holot. Eles simplesmente não querem Holot. “Quando cruzei a fronteira, me disseram ‘Bem-vindo a Israel’. E, de fato, vivi bem aqui. Eu gosto muito de Israel. Até que decidiram me chamar de infiltrado, usando uma lei anti-terrorismo, e me colocar aqui.”, contou um dos refugiados para um público de israelenses ainda um pouco desnorteados. A reação mais sincera que conseguimos ter foi seguir o caminho de volta a Jerusalém em silêncio. Exceto pelo canadense, que, como todo ativista de direitos humanos de países tidos como desenvolvidos, estava cheio de análises e opiniões sobre um país e uma sociedade que ele se recusa a enxergar como complexa e multifacetada.

“Uma mesma lei e um mesmo direito haverá para vós e para o estrangeiro que peregrina convosco.” (Números 15:16)

“Uma mesma lei e um mesmo direito haverá para vós e para o estrangeiro que peregrina convosco.” (Números 15:16)

Para mais informações a respeito de organizações israelenses (é ridículo ter que ressaltar isso toda vez, mas é necessário enquanto ainda houver gente surda às diferentes vozes de cada sociedade) que tratam da questão dos refugiados:
March for Freedom / Jerusalem African Community Center / Kolot leHolot / Faces of Exile (Em inglês)

Texto publicado originalmente no blog pessoal da autora.

Brasil: política anti-israelense?

No recente conflito entre Israel e a Faixa de Gaza, o Brasil mais uma vez criticou de forma enfática a política Israelense. A lacuna da diplomacia brasileira e israelense ficou clara no caso da resposta do porta-voz israelense à nota do Ministério das Relações Exteriores: “Desproporcional é 7×1”. Nós, judeus da diáspora e também cidadãos brasileiros, ficamos muito desconfortáveis com a situação. Não é a primeira vez que o PT toma posições anti-israelenses; o próprio Lula fez questão de se aproximar de personalidades como Kadhafi e Ahmadinejad, que negou o Holocausto.

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Se olharmos as votações da ONU nos assuntos referentes a Israel e Palestina, podemos notar que depois da Guerra do Yom Kippur em 1973 os países da América Latina vem majoritariamente votando em desacordo com o voto israelense. Essa inflexão no posicionamento latino americano certamente está relacionada à abdicação da OLP (representante legítimo do povo palestino segundo o governo brasileiro) do terrorismo como instrumento para a sua luta, o que fortificou sua força diplomática.

Mas afinal, o posicionamento do Itamaraty vem seguindo alguma lógica? Qual o interesse real do Brasil em Israel? Afinal de contas, Israel, tem apenas o tamanho aproximadamente do estado do Sergipe e se localiza a milhares de quilometros de distância. A primeira coisa que passa em minha cabeça é a pressão das comunidades árabe e judaica. Porém por um lado a comunidade árabe é muito desunida, e por outro a comunidade judaica tem uma quantidade de membros expressivamente menor. O que sabemos é que a diplomacia brasileira tende a ser realista, termo que significa que suas decisões são pouco influenciadas por motivos morais, e sim definidas pelo interesse do país. O resultado dessa política geralmente é a prudência e um equilíbrio na aproximação com as partes em conflito.

A prudência brasileira se refletiu de forma a induzir o Brasil a votar na ONU sempre com a maioria. Um dos exemplos mais extremos para reafirmar essa ideia foi a votação positiva do Brasil da resolução 3379 em 1975 durante o governo Geisel, que comparava Israel com o Apartheid sul africano. Porém, a tentativa de aproximação de ambas as partes nunca deixou de existir. O Brasil nunca fez um boicote a Israel, pelo contrario, vem aumentando de forma expressiva suas relações comerciais, assim como com os países do mundo árabe. Paralelamente à aproximação com líderes não exatamente populares perante a comunidade judaica global, pela primeira vez um presidente brasileiro visitou oficialmente Israel.

Tal política realista não é apenas do PT, mas vem sendo construída pelo Itamaraty por décadas. Nos últimos anos, o Brasil tem tentado se projetar como potência global e por isto a necessidade de se posicionar nos assuntos mais polêmico do cenário internacional, o que leva a uma necessidade de posicionamento em relação a  Israel, e consequentemente a todo o Oriente Médio.

A hegemonia brasileira na América Latina já é inquestionável, suas decisões influenciam as dos demais países da região, como foi o caso do reconhecimento do Estado Palestino pelo Brasil que levou a uma série de outros países latino-americanos a fazer o mesmo. O reconhecimento do status Palestino implicou na limitação do espaço de manobra da nossa diplomacia, levando à ausência de menção direta aos palestinos no recente conflito entre Israel, evitando assim algumas contradições. No entanto, em nota oficial emitida pelo então ministro das relações exteriores Luiz Alberto Figueiredo referindo-se ao uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, causou polêmica perante a comunidade judaica local por condenar apenas os atos israelensessem referir-se aos ataques do Hamas.

Não me parece plausível taxar a política externa brasileira como contrária a Israel nem mesmo em seu governo atual. Por mais que não concordemos com algumas decisões da política externa brasileira que percebemos como muito agressivas, elas fazem parte de estratégia predeterminada, e poucas vezes tem realmente ligação com a opinião particular dos governantes sobre Israel. Estas decisões são muito mais instigadas por interesses não declarados do que posições morais, como por exemplo, a relação do Brasil com os Estados Unidos, que tem exercido grande influência para a tomada de decisão brasileira nesse assunto.

Zero grau em Holot

Ontem, cerca de 100 pessoas – é o que eu, que não sou nem de longe boa em contas, estimo – fecharam uma das ruas mais movimentadas de Tel Aviv chamando atenção para o campo de refugiados Holot, onde as pessoas seguem sem aquecimento nesse inverno cujas temperaturas giram em torno dos 0°C. Entre os cartazes, o mais incisivo dizia “Judeus não constroem guetos”. O evento, divulgado pelo Facebook, tinha por título “Zero grau em Holot – Mães contra Holot: exigimos o fechamento de Holot”

O tema dos refugiados é totalmente novo para mim. Não sei muito a respeito de Holot, nem da lei de prevenção, por isso achei que seria interessante ir ao protesto – vale lembrar, totalmente organizado por cidadãos israelenses. Pretendo escrever mais sobre o que ocorreu em Tel Aviv em breve e acrescentar algumas fotos. Por enquanto, traduzi o folheto que estava sendo entregue durante a manifestação.

Mães contra Holot: verba para as vizinhanças, não para Holot.

Mais de 2.300 requerentes de asilo do Sudão e da Eritreia estão detidos na prisão “aberta” Holot sem julgamento. Lá eles sofrem com a falta de aquecimento e de alimentação adequada, com a falta de prestação de serviços de saúde e com os contínuos abusos emocionais.

Nós marchamos para expressar empatia e apoio, e para demonstrar nosso profundo choque com a forma pela qual eles são tratados. Nós estamos aqui para exigir reconhecimento, direitos e respeito aos refugiados e exigir o fim da “lei da infiltração” – e soluções verdadeiras para os refugiados do sul de Tel Aviv.

Quem são essas pessoas de fato? E por que estão aqui?

Em Israel há cerca de 47.000 requerentes de asilo, a maior parte vindos da Eritreia (66%) e de diferentes regiões do Sudão (25%). A Eritreia é uma ditadura conhecida como “a Coreia do Norte da África”. Não há liberdades nem direitos básicos. Quem tenta se opor ao regime, ou exigir democracia, é detido, torturado e morto.

Requerentes de asilo do Sudão chegaram principalmente de Darfur, de Cordofão do Sul e da região do Nilo Azul. Trata-se de minorias étnicas perseguidas pelo governo que passaram por genocídio e por perseguições cruéis. Muitos dos requerentes de asilo atravessam o Sinai, onde estão vulneráveis a sequestros, torturas, tráfico de órgãos e outros horrores.

Mas um momento! Eles definitivamente não são refugiados. São infiltrados, não?

O único modo de saber de fato se alguém é refugiado é analisando o pedido de asilo de forma detalhada e transparente, como ocorre em todos os países decentes no mundo. Israel se nega a analisar os pedidos. Não existe isso de “infiltrados”. Isso é criação do governo israelense, que tem a intenção de deslegitimar os requerentes de asilo.

Então qual é a nova emenda da lei para a prevenção de infiltração?

De acordo com a emenda anterior, o governo israelense começou a enviar os requerentes de asilo que vivem em Israel para a prisão “aberta” Holot, sem um processo justo. Em 22/09/2014 o Tribunal Superior de Justiça determinou que a detenção coletiva unicamente com o objetivo de conter a imigração e encorajar a saída “espontânea” dos imigrantes do país não é constitucional.

Em resposta, o governo emendou a lei para que os requerentes de asilo sejam detidos por “apenas” 20 meses. Com lugar para cerca de 3000 pessoas, a instalação está localizada no deserto e é dirigida pelo Sistema Penitenciário de Israel (Shabas). Os “hóspedes” são proibidos de sair durante a noite e de trabalhar. Além disso, não são providas a eles as necessidades básicas, como aquecimento, nutrição e serviços de saúde adequados. É uma prisão. Pura e simplesmente. Essa detenção é contrária à lei israelense e à lei internacional e viola os direitos e a dignidade humana. As emendas à lei de prevenção à infiltração são uma vergonha para todas nós. A emenda constitucional deve cair.

Mas nós não podemos ajudar todas essas pessoas…

Refugiados não são um fenômeno recente. Alguém como nós sabe disso. Muitos países no mundo, inclusive países muito mais pobres que Israel, recebem pessoas fugindo de guerras e de perseguição. Israel não é especial nem diferente. As verbas investidas nas detenções de refugiados podem e devem ser investidas em coisas diferentes.

E quanto aos problemas no sul de Tel Aviv?

Os problemas no sul de Tel Aviv são reais e devem ser resolvidos de antemão. Mas são resultado de políticas vigentes de negligência. O governo é culpado pela alta concentração de requerentes de asilo nessas regiões – ele que as colocou ali e não forneceu recursos e infraestrutura para a região. A solução para os problemas no sul de Tel Aviv é o investimento em infraestrutura e serviços e não em detenção de centenas de indivíduos, uma vez que isso não muda a situação atual do sul da cidade.

O que precisa acontecer?

É preciso acabar com o pânico e com as mentiras. Requerentes de asilo não são ameaça ou perigo. É preciso analisar os pedidos de asilo e aumentar o reconhecimento dos que chegam. Até então, é preciso permitir que as pessoas vivam com dignidade e acabar com as perseguições. É preciso fornecer a eles licença para trabalhar e possibilitar que eles se integrem às áreas que demandam mão de obra ao redor do país em vez de importar novos trabalhadores. É preciso acabar com a lei de prevenção à infiltração. As verbas destinadas à construção e à manutenção de instalações de detenção devem ser direcionadas ao desenvolvimento das vizinhanças do sul da cidade.

Mais detalhes (em hebraico) em: holotvoices.co.il / fb.com/refugeesmarch

Texto publicado originalmente no blog pessoal da autora.