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Temos que enfrentar o BDS em nome dos direitos humanos

Por Rabino Jonathan Sacks

Existe uma preocupação crescente e generalizada entre os judeus em Israel e no exterior, também entre os amigos de Israel por todos os lados, sobre a crescente ameaça que do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções). Em três conferências nos últimos dias – em Las Vegas convocada por Sheldon Adelson e Haim Saban, em Nova York pelo The Jerusalem Post, e no Centro Interdisciplinar de Herzliya, na qual pude discursar – a discussão sobre o movimento BDS e como lidar com ele, atraiu os holofotes.

Nossa luta contra este movimento não será fácil, nem será ganha numa noite, sem uma cooperação, determinação e apoio. Mas é uma luta que podemos e devemos ganhar, não apenas pela sobrevivência de Israel ou a segurança do povo judeu, mas pelo mundo. Mas, para entender como ganhar esta luta, é preciso olhar de fora e enxergar o fenômeno mais amplo do qual faz parte.

Primeiramente, cabe declarar o óbvio: o movimento BDS, não é, por si só, anti-semita. Muitos de seus partidários compartilham de uma genuína preocupação com os direitos humanos, que qual acredito que todos nós, compartilhamos. Suas reivindicações devem ser ouvidas de forma honesta e abertamente, assim como aquelas feitas pelos defensores de Israel.

As universidades, em particular, devem estar atentos para garantir a liberdade de expressão, o que significa escutar respeitosamente pontos de vista contrários ao seu próprio. Uma pré-condição fundamental para a justiça é a “Aude alterem partem” – ouvir o outro lado. Caso contrário, as universidades estariam em perigo de se tornar, aquilo que Julian Benda desceveu, em The Treason of the Intellectuals, ambientes para “a organização intelectual de ódios políticos.”

No entanto, o maior fenômeno que molda o pano de fundo para o movimento BDS tornou-se, ainda mais claro no decorrer do século 21. É a mais recente encarnação da negação aos judeus, como uma fé diferente e um povo, o direito de existir: o direito de se autogovernar na terra de seus antepassados.

O anti-semitismo não é um fenômeno estático. É um vírus que se transforma, derrotando assim o sistema imunitário de sociedades livres. Durante a Idade Média, os judeus foram odiados por sua religião. Durante o século 19 e no começo do século 20, eram odiados por sua raça. Hoje são odiados pelo seu Estado-nação. Por mil anos eles foram a mais evidente presença não cristã numa Europa cristã. Hoje, o Estado de Israel é o mais óbvio não islâmico estado no meio de uma maioria muçulmana no Oriente Médio. O anti-semitismo não é somente sobre judeus. É uma ofensa contra a dignidade fundamental da diferença.

Ao contrário do pressuposto popular, não é fácil justificar o ódio em um discurso público. É por isso que os anti-semitas sempre buscaram a validação da fonte mais elevada de autoridade dentro de uma determinada cultura. Na Idade Média, era a religião. A religiosa, Judeofobia. No século 19, era a ciência, na forma do chamado estudo científico da raça, e o “darwinismo social”, a crença de que a sociedade funciona como a biologia, em que o mais forte sobrevivem ao eliminarem os mais fracos.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial a maior fonte de autoridade tem sido os Direitos Humanos. E é por isso que, durante as sessões paralelas das ONGs que acompanharam a notória Conferência das Nações Unidas contra o Racismo em Durban, poucos dias antes de 9/11, Israel foi acusado de cometer os cinco pecados cardeais contra os direitos humanos: o racismo, o apartheid, crimes contra a humanidade, limpeza étnica e tentativa de genocídio. Hoje qualquer ataque contra os judeus deve ser redigido na linguagem dos direitos humanos.

A maneira mais simples de compreender este ataque atual contra o Estado de Israel é que, em 1948, 1967 e 1973, seus inimigos procuraram empurrá-lo para uma crise militar, e falharam. Em 1973, com o boicote internacional tentaram empurrá-lo para uma crise econômica, e falharam. Em 1975, com o “sionismo é racismo” repercutido nas Nações Unidas procuraram empurrá-lo para uma crise política, e falharam. Em 2001 e 2002, com as ondas implacáveis de atentados suicidas, tentaram empurrá-lo para uma crise psicológica, e falharam. Agora, com o movimento BDS, entre outros, os inimigos de Israel estão tentando empurrá-lo para uma crise moral, e até certo ponto, estes podem obter algum sucesso.

O primeiro sinal disso é que entre os jovens judeus, Israel – que já foi o grande fator de unificação entre os judeus de todo o mundo – tornou-se, pelo menos em alguns círculos, um fator divisivo. A segunda é a tentativa de fazer a opinião pública nas sociedades europeias tão hostis a Israel que, eventualmente, alguns judeus poderão sentir-se obrigados a fazer uma escolha, entre apoiar Israel, por um lado, ou de viver na Europa, por outro lado – alerta feito há alguns anos atrás pelo intelectual francês e judeu, Alain Finkielkraut. Isto deve ser combatido da mesma forma que muitos judeus têm feito em nome dos próprios direitos humanos. Israel continua a ser a única verdadeira democracia no Oriente Médio, com uma imprensa livre e um Judiciário independente, o único lugar onde as minorias religiosas podem viver sua fé, com segurança.

O objetivo final, obviamente, é deixar Israel tão isolado na arena internacional que seus inimigos possam facilmente traçar o caminha para sua destruição, D’s me livre, sem o medo de que represálias, que não sejam de Israel, virão.

O renascimento desta forma mutante de anti-semitismo, na ainda viva, memória do Holocausto, deveria ser assustadora para qualquer um com um verdadeiro sentido de humanidade. Um ataque a judeus ou ao Estado Judeu nunca se limita a somente os judeus. Se trata de uma agressão à própria liberdade religiosa. Hoje, quando cristãos estão sendo perseguidos e muçulmanos assassinados pelas forças do Islã radical político, todos aqueles que se importam com direitos humanos, particularmente os governos europeus e suas comunidades judaicas, deveriam se juntar com o governo israelense, em sua defesa, recusando-se a permitir que a causa seja sequestrada por aqueles cuja agenda final não é a liberdade e nem a democracia, mas sim, algo completamente mais velho, mais escuro e muito mais perigoso.

Traduzido e enviado por Dov Zellerkraut, do texto original, publicado no Jerusalem Post, em 11/jun/2015.

Tradução publicada originalmente na página Consensus, em 17/jun/2015.

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