Ariela Halpern

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Sou estudante de Relações Internacionais da PUC-SP, e tenho como área de interesse a politica israelense. Cursei o programa "Iberian and Latin American Studies & the Middle East" em 2014 na Hebrew University of Jerusalem. Atualmente participo do grupo de estudo sobre os conflitos israelenses do Fórum 18.

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Brasil: política anti-israelense?

No recente conflito entre Israel e a Faixa de Gaza, o Brasil mais uma vez criticou de forma enfática a política Israelense. A lacuna da diplomacia brasileira e israelense ficou clara no caso da resposta do porta-voz israelense à nota do Ministério das Relações Exteriores: “Desproporcional é 7×1”. Nós, judeus da diáspora e também cidadãos brasileiros, ficamos muito desconfortáveis com a situação. Não é a primeira vez que o PT toma posições anti-israelenses; o próprio Lula fez questão de se aproximar de personalidades como Kadhafi e Ahmadinejad, que negou o Holocausto.

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Se olharmos as votações da ONU nos assuntos referentes a Israel e Palestina, podemos notar que depois da Guerra do Yom Kippur em 1973 os países da América Latina vem majoritariamente votando em desacordo com o voto israelense. Essa inflexão no posicionamento latino americano certamente está relacionada à abdicação da OLP (representante legítimo do povo palestino segundo o governo brasileiro) do terrorismo como instrumento para a sua luta, o que fortificou sua força diplomática.

Mas afinal, o posicionamento do Itamaraty vem seguindo alguma lógica? Qual o interesse real do Brasil em Israel? Afinal de contas, Israel, tem apenas o tamanho aproximadamente do estado do Sergipe e se localiza a milhares de quilometros de distância. A primeira coisa que passa em minha cabeça é a pressão das comunidades árabe e judaica. Porém por um lado a comunidade árabe é muito desunida, e por outro a comunidade judaica tem uma quantidade de membros expressivamente menor. O que sabemos é que a diplomacia brasileira tende a ser realista, termo que significa que suas decisões são pouco influenciadas por motivos morais, e sim definidas pelo interesse do país. O resultado dessa política geralmente é a prudência e um equilíbrio na aproximação com as partes em conflito.

A prudência brasileira se refletiu de forma a induzir o Brasil a votar na ONU sempre com a maioria. Um dos exemplos mais extremos para reafirmar essa ideia foi a votação positiva do Brasil da resolução 3379 em 1975 durante o governo Geisel, que comparava Israel com o Apartheid sul africano. Porém, a tentativa de aproximação de ambas as partes nunca deixou de existir. O Brasil nunca fez um boicote a Israel, pelo contrario, vem aumentando de forma expressiva suas relações comerciais, assim como com os países do mundo árabe. Paralelamente à aproximação com líderes não exatamente populares perante a comunidade judaica global, pela primeira vez um presidente brasileiro visitou oficialmente Israel.

Tal política realista não é apenas do PT, mas vem sendo construída pelo Itamaraty por décadas. Nos últimos anos, o Brasil tem tentado se projetar como potência global e por isto a necessidade de se posicionar nos assuntos mais polêmico do cenário internacional, o que leva a uma necessidade de posicionamento em relação a  Israel, e consequentemente a todo o Oriente Médio.

A hegemonia brasileira na América Latina já é inquestionável, suas decisões influenciam as dos demais países da região, como foi o caso do reconhecimento do Estado Palestino pelo Brasil que levou a uma série de outros países latino-americanos a fazer o mesmo. O reconhecimento do status Palestino implicou na limitação do espaço de manobra da nossa diplomacia, levando à ausência de menção direta aos palestinos no recente conflito entre Israel, evitando assim algumas contradições. No entanto, em nota oficial emitida pelo então ministro das relações exteriores Luiz Alberto Figueiredo referindo-se ao uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, causou polêmica perante a comunidade judaica local por condenar apenas os atos israelensessem referir-se aos ataques do Hamas.

Não me parece plausível taxar a política externa brasileira como contrária a Israel nem mesmo em seu governo atual. Por mais que não concordemos com algumas decisões da política externa brasileira que percebemos como muito agressivas, elas fazem parte de estratégia predeterminada, e poucas vezes tem realmente ligação com a opinião particular dos governantes sobre Israel. Estas decisões são muito mais instigadas por interesses não declarados do que posições morais, como por exemplo, a relação do Brasil com os Estados Unidos, que tem exercido grande influência para a tomada de decisão brasileira nesse assunto.

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