Neste mês de Junho que passou, ocorreu a 4ª Conferência Presidencial de Israel. Seu tema, todos os anos, é o “amanhã”. Este ano, os painéis contaram com a presença de figuras renomadas da política e da academia do Oriente Médio, Estados Unidos e Europa. Dentre os dois maiores campos discutidos, política e economia, os temas se voltaram fortemente para a questão do euro e a sobrevivência da União Européia, a Primavera Árabe e Manifestação de Um Milhão em Israel e, claro, sobre o relacionamento entre árabes e judeus e como avançar nas negociações de paz entre israelenses e palestinos. Tratemos neste espaço sobre este último tema.
Dennis Ross foi um dos palestrantes mais esperados – com razão. Americano e autor de um dos livros fundamentais sobre a questão Israel/Palestina – “The Missing Peace” – Ross serviu como coordenador especial a respeito do Oriente Médio durante o governo Clinton. Ele trouxe à tona algo desconfortável de se escutar: a verdade.
Expondo o que todos esperavam, falou sobre as negociações de paz entre o governo israelense e os partidos palestinos. E sua frase de impacto resumiu tudo que podemos perceber atualmente: “Há uma descrença dos dois lados. Uma coisa é falar sobre falta de vontade. Outra, é sobre falta de credibilidade. Quem não acredita, não avança”
Em Israel e com o enorme prazer de estar presente nesta reunião de grandes mentes de países árabes e de Israel, pessoas de culturas, histórias, religiões, profissões diversas, é exatamente isso que se percebe. Não há quem acredite na paz. Ok, não há quem realmente acredite que se possa chegar a este ponto. E, para isso, Dennis Ross também traz a resposta: antes de mais nada, é necessário recuperar a crença das pessoas, palestinos e israelenses!
Como todo bom analista, ele não veio somente para dizer o problema. Indicou “passos” possíveis e necessários para que os dois povos andem para frente, como seguem (Ross literalmente enumerou):
- Israel precisa recuar em relação aos assentamentos. E não, isso não é fácil como parece para a mídia internacional. Há seres humanos, cidadãos vivendo lá. O governo deve ter um bom planejamento de reembolso e reposição de moradias, considerando resultados desastrosos da retirada unilateral de Gaza.
- O governo israelense pode, ainda, auxiliar em incentivos ao desenvolvimento econômico palestino – o que, em um contexto diplomático, seria benéfico para ambos os lados.
- Os palestinos, por sua vez, devem começar a colocar Israel no mapa. Não há praticamente um livro didático palestino que fale de Israel como um país soberano.
- A morte de israelenses deve parar de ser comemorada por grupos palestinos – o que Ross chegou a chamar de antissemitismo.
- Assim como os israelenses aceitam o direito religioso dos palestinos de frequentarem seus locais sagrados, a Palestina tem que aceitar que os judeus também possuem direito religioso em relação a Jerusalém.
Um conflito tão longo, que dura mais de cem anos, não pode ser travado por um único ator. Dois lutam, dois participam. Se fosse uma história fácil, de mocinho e bandido, o vilão já teria sido detido como ocorreu diversas vezes no mundo. E para quem tem dúvidas, a paz é algo necessário aos dois envolvidos. Não é um favor que um faz para o outro – é uma questão de interesse mútuo.
Entretanto, decisões não partem apenas de cima pra baixo. É preciso, como afirma Dennis Ross, que o povo – palestinos e israelenses – volte a crer que a paz é possível. Para isso, existem projetos, pessoas à frente de organizações e com muito boa vontade, como será exibido no próximo artigo referente ao que foi falado sobre a convivência entre os cidadãos de diferentes origens em Israel.
Texto publicado originalmente no blog Middle East Talks … vamos bater um papo sobre o Oriente Médio?
Este e outros textos da autora podem ser conferidos em http://orientemediohoje.com
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